01 Jun
Camera Catacumba (português)

Apesar da característica pictorialista desta série, já aqui, é também o processo que está conscientemente presente no trabalho; alias, como podemos verificar em trabahlhos anteriores  a este. Foi realizado ao longo de uma viagem pelo centro e sul de Portugal, na semana anterior ao dia de Todos os Santos, em 2013. Utilizando uma simples construção de papelão, papel de alumínio e tecido preto, transformei ossários e catacumbas temporariamente sem uso em câmera obscura. A projeção das paisagens – não urbanas, pois o que se vê não é a polis, mas a necrópolis – para dentro da caverna retangular é gravada utilizando uma simples máquina digital. A máquina em time control é colocada dentro do espaço escuro. Não me vou debruçar sobre a força metafórica deste agencement tão simples e, ao mesmo tempo, tão rico. Não mexi em mais nada – dentro dos cubículos às vezes havia objetos: flores de papel, garrafas de lixívia, velas, placas partidas de mármore. Vestígios de vida e morte, e do business do culto da memória. E business havia muito, nos cemitérios portugueses nos dias antes de Todos os Santos. Os portugueses convivem com os seus antepassados; limpam os habitáculos deles, renovam os bordados e ramalhetes, polem os vidros, escovam as lápides. E entre tanto, fuma-se um cigarrinho, bate-se um papo, come-se uma merenda. Nunca antes vi tantos jazigos abertos, com os caixões à vista, à distância de um braço estendido, e vários em estado de decomposição. E nunca antes vi tanta gente nem minimamente preocupada com isso. Ao longo da viagem, só uma vez um vigilante me perguntou o que estava fazendo. De resto, passei despercebido, pois era somente mais um homem atarefado, no meio de um cemitério zumbindo de vitalidade

Nas imagens, nao há nem um traço de tanta confusão, devido ao tempo prolongado de exposição. Calmo e em plena solenidade resta o mundo dos vivos, visto do outro lado. 


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